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Seu laticínio quebra pelo que você não sabe
Seu laticínio quebra pelo que você não sabe

Ao contrário de qualquer outro negócio no Brasil, a indústria de lácteos está no ponto central de um ecossistema. No meio de uma cadeia onde, de um lado existe uma grande concorrência para adquirir matéria prima (basicamente captação do leite), e de outro o mercado, ou seja, a comercialização dos produtos.

Essa disputa faz com que as margens do seu laticínio sejam pressionadas e o risco aumente durante toda sua operação! Mas será mesmo esse o grande risco? Comprar leite caro e ter que concorrer vendendo suas mercadorias baratas? Olhando por uma ótica de gestão, em minhas andanças por todo o Brasil, quero deixar aqui alguns questionamentos:

  •  Como é a captação de leite da sua indústria?
  •  Existe um mecanismo (software por exemplo) que controle a captação do leite?
  •  Você sabe exatamente, sem nenhuma sombra de dúvidas, qual a quantidade de leite que você recebe na sua indústria?

De tanto conversar com proprietários de laticínios posso afirmar que a grande maioria não consegue responder a essas perguntas com exatidão e por isso afirmo que você provavelmente não tenha um processo bem estabelecido.

Essas são dúvidas sobre informações que estão perdidas, que não se tem domínio e, portanto, considero que o grande gargalo para as indústrias é justamente o que elas não sabem, então eu afirmo você está deixando dinheiro na mesa. Brinco muito com os proprietários das indústrias que tenho contato que do leite devemos aproveitar até o “berro da vaca”.

Vejo que grande parte dos pequenos e médios laticínios do Brasil estão sendo massacrados por culpa própria. Soa mal ao caro leitor essa mensagem tão direta, mas sem dúvida se tratando de gestão de um laticínio o dono pode ser o maior inimigo do seu próprio negócio.

Eu poderia apontar aqui uma série de fatores que ligassem diretamente a falência de um laticínio exclusivamente a ações do proprietário, mas sem duvida a mais importante é a falta de conhecimento. Como diria meu mentor  Paulo Vieira, “o que você sabe te trouxe até aqui, mas o que você não sabe é o que irá te levar ao próximo nível”. No caso das indústrias lácteas eu diria da seguinte forma: “O que você sabe te trouxe ate aqui mas é o que você não sabe que fará seu laticínio falir”.

Talvez você esteja se perguntado o que eu quero dizer com isso, e eu te explico. Um laticínio é feito de processos e pessoas como qualquer outro negócio, a primeira pergunta que o caro leitor deve refletir é: Você conhece bem o mercado que a sua indústria está atingindo?

Isso é importante para definir que tipo de indústria você é: uma indústria de processo ou uma indústria de produtos. Talvez você esteja pensando “mas toda indústria não tem que ter processos e produtos?” Afirmo que sim, mas diferencio estes dois termos da seguinte forma:

  1. Uma indústria de Produtos é uma empresa que sabe exatamente o tipo de lácteo para cada tipo de mercado ou seja ela sabe o que vende e para quem vende, ela  trabalha com produtos de alto valor agregado, sabendo diferenciá-los do mercado tradicional,  essa indústria não entra na briga por preço simplesmente.
  2. Os laticínios de processo (comodities) são aqueles que trabalham com produtos tradicionais tais como muçarela, minas padrão, minas frescal, ou seja, queijos tradicionais, iogurte/bebida láctea, manteiga, requeijão etc.  São estes laticínios que devem ter um processo de gestão/fabricação muito bem estabelecidos e principalmente descritos, uma vez que nesse tipo de indústria o que de fato pode trazer resultado financeiro da operação é o seu processo rigoroso, desde a captação do leite até o produto final.

Sabendo disso, a captação de leite é parte crucial dos laticínios de processo (comodites). Pergunto: Você realmente recebe o volume de leite que paga ao produtor? Eu poderia enumerar uma série de perdas nesse processo. Perda de qualidade pelo número de coletas realizado, no transporte até os laticínios, tanques da propriedade rural fora do nível (ou desnivelado), falta de investimento em tecnologia no controle de coleta. Estimo que só nesse primeiro processo um laticínio pode perder cerca de 2% do volume captado.

Para não estender muito em captação, já que poderia ser muito mais aprofundado, pois abordaria análise de água, método de pagamento do leite, pagamento por qualidade etc., assuntos que podemos deixar para tratar num próximo artigo. Podemos falar sobre a área de produção e para essa análise vou levar em consideração aqui o queijo mais fabricado no Brasil, queijo muçarela.

Por exemplo, você realiza a padronização do leite? A padronização é realizada de forma eficiente para que possa otimizar o máximo o rendimento do queijo? Digo isso pois existem inúmeras metodologias aplicadas pelas indústrias. Grande parte levando em consideração a sabedoria de anos de experiência do queijeiro responsável, mas lamentavelmente sem comprovação de eficiência.

Temos hoje no mercado uma série de insumos que atendem cada um e a uma técnica específica. Exemplo disso é que podemos fabricar muçarela com fermento x, que o leite deve ser padronizado a 3% de matéria gorda, e o fermento que o leite pode ser padronizado em teor de gordura na casa 2,7%.

O que quero deixar claro aqui e a importância do processo nesses casos. Um laticínio de processo não pode tolerar erros e a cada um, pode ser uma queda sem possibilidades de retorno. Um preço alto demais a ser pago.

Em relação aos equipamentos, vejo que não existe uma preocupação com a eficiência dos equipamentos utilizados na fabricação do queijo. Então te pergunto: Seus equipamentos realmente vão extrair o máximo do que o leite pode te oferecer? Reflita. Na decisão de compra de um equipamento o preço não pode ser o fator de decisão, o que de fato você deve observar é que o equipamento te entrega.

Poderia continuar aqui falando de ingredientes, produtos químicos, metodologias, mas o que quero que você reflita é sobre o seu processo.  Um laticínio que trabalha com este tipo de produto não pode deixar sequer um único centavo na mesa, por isso afirmo estabeleça um bom processo!

Até aqui falamos sobre sua indústria, agora vamos falar sobre o mais importante: quem opera sua indústria. Vamos para a parte fundamental do processo que são as “Pessoas”. O seu colaborador é a pessoa mais próxima do seu cliente por ser quem elabora e entrega o seu produto ao consumidor final. Seu colaborador foi treinado para exercer o trabalho com excelência. Saiba que sua obrigação como gestor é cultivar e aprimorar habilidades para extrair o melhor de uma pessoa.

E você pode estar pensando: “como saber se sou um bom gestor?” Deixo aqui uma última pergunta: Quantos treinamentos ou consultorias você trouxe para dentro da sua empresa este ano? Nos últimos anos? Com essa resposta já podemos separar indústrias que prosperam das que não prosperam, pois com a tecnologia existente hoje, e toda sorte de cursos e treinamentos disponíveis é responsabilidade do gestor ter um processo muito bem definido e que garanta resultados contundentes.

Para finalizar vou deixar uma frase forte e marcante “uma empresa é reflexo do dono, os colaboradores são reflexo do dono e uma cultura também é reflexo do dono, se um laticínio vai mal das pernas é simples a resposta: boa parte da culpa é do ….”

Espero que tenha feito sentido as provocações colocadas aqui.

Texto criado por: Wilson Silva

 

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